segunda-feira, 28 de março de 2011

A BURROCRACIA

A burocracia, por qualquer ângulo que se observe, deveria chamar-se mesmo “burrocracia”. Não que pretendamos diminuir ou usar pejorativamente o nome da pobre alimária, que tantos serviços presta a humanidade, com certeza mais do que muitos que se aboletam numa cadeira do serviço público para dificultar o acesso a esses mesmos serviços das pessoas que os mantêm lá, que são os contribuintes em geral. Oficialmente a burocracia é criada e mantida para dar mais segurança nas transações da população com o Estado, na medida em que visa dificultar o acesso daqueles que intentam processos fraudulentos. Acontece que estes “bem intencionados cidadãos” esquecem que os fraudadores que só se ocupam disto, estudam e conhecem todos os passos dos processos burocráticos, sendo-lhes extremamente fácil corrompê-los. Já com o cidadão comum, se dá exatamente o contrário, centrado em sua honestidade, não conhece aquele funcionário que dá um jeitinho, não é amigo do chefe da seção, não fura filas e é o único prejudicado nesta história. Por trás do papel oficial da burocracia, esconde-se a verdadeira motivação dos criadores de dificuldades: quanto mais carimbo mais funcionário para carimbar, quanto mais um servidor obsta um processo mais ele parece ser cuidadoso, zeloso com a coisa pública e assim imprescindível para a empresa e importante para o chefe. Outro dia estive no DETRAN da Maraponga, em Fortaleza, para receber o documento do veículo de um amigo que se mudara para o Norte do País. Como o eficiente funcionário dos Correios não encontrou meu amigo no antigo endereço, se negou entregar o documento ao novo morador da casa, embora este tenha se oferecido para intermediar a entrega. Não houve jeito, o competente carteiro sacou sua arma preferida, um carimbo com os dizeres “DESTINATÁRIO NÃO LOCALIZADO” e tascou num campo próprio da correspondência previamente estabelecido pela burocracia da empresa que tem o pendor de prever estas dificuldades. Pois bem, lá fui eu ao DETRAN munido de uma procuração pública com poderes especiais, no melhor estilo “burrocracia” solicitar da maquininha uma senha de atendimento de número 89. Detalhe: o visor do painel eletrônico apontava que o portador da senha de número 44 estava sendo atendido no guichê 04. Acomodei-me confortavelmente numa poltrona macia em frente ao balcão de atendimento e esperei exatos 80 minutos para o painel anunciar que o guichê 01 estava pronto para atender o número 89. Dirigi um cumprimento qualquer à moça do guichê que respondeu perguntando-me em que poderia ajudar e solicitando que eu mostrasse meus documentos. Depositei sobre sua mesa a dita procuração pública e a cédula de identidade explicando que esta já continha o CPF. Sem ao menos olhar para os papéis ali em sua frente, a moça perguntou-me o número da placa do veículo, motivo deste atendimento. Disponibilizei-lhe o número solicitado e ela digitou alguns caracteres no teclado de seu computador, escreveu alguns números num pequeno quadrado de papel, olhou para mim com aquele olhar senhorio do dever cumprido e falou: _Senhor, seu pedido foi anotado, este é o seu número de atendimento, Volte amanhã, neste mesmo horário para receber seu documento, não se esqueça de trazer cópias autenticadas da procuração e de seus documentos pessoais. Fingi espanto, pois na verdade já esperava por este desdobramento, disse-lhe, mentido, (quem disse que cidadão comum não mente?) que tinha passagem marcada para as duas horas da tarde daquele dia para a cidade onde morava meu amigo e que pretendia levar pessoalmente o documento. Ela pareceu entender, mas argumentou que era ordem expressa da chefia não entregar documentos solicitados no mesmo dia, no que eu retruquei que o chefe dela não devia saber das reais necessidades dos usuários, como também não iria saber se ela me entregasse o documento naquele instante. Ela olhou-me por um momento e eu percebi que dentro dela travava-se uma batalha: entrego X não entrego, cara ou coroa? Finalmente falou: _Aí ao lado tem uma loja de fotocópias, vá lá, copie os documentos que eu vou ver o que posso fazer por você. Retornei com as cópias dos documentos, sem autenticação por absoluta falta de cartório e as entreguei a moça que mais uma vez sem lê-los ou mesmo examinar se estavam autenticados, acondicionou-os numa pasta cinza. Pediu-me que assinasse um recibo que estava anexo ao DUT, que ela chamou de canhoto e entregou-me aquele papelzinho verde, ou é azul? Só sei que depois desta epopéia ele é simplesmente um troféu. E viva a BUROCRACIA!

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