Dia destes
resolvi preencher um cadastro que há dias uma empresa do ramo de vendas pela
internet havia disponibilizado em meu e-mail. Na verdade, talvez por falta de
tempo ou interesse eu viesse protelando a iniciativa. Só neste dia, como não me
apareceu nada melhor para ocupar o tempo abri o formulário e me dispus a postar
os dados solicitados. Primeiro deles, o nome, é sempre o nosso nome que eles
querem conhecer primeiramente. Grafei: – Francisco das Chagas Canuto. Como
disse estava com tempo sobrando e por isso comecei a refletir o porquê de terem
me dado o nome de um santo tão popular quanto internacional, tendo
influenciado, inclusive, o nome do atual Papa.Esta história
eu conheci sempre. Desde que me entendi por gente ouvi de minha mãe e de outros
familiares a saga que foi minha chegada a este mundo, sadio e... Bem, diziam:
“o importante é que tenha vindo com saúde”. Antes de mim, que sou o
primogênito, minha mãe tivera três abortos e já não acreditava que tivesse
sucesso na quarta gestação quando uma idéia lhe surgiu como se enviada dos céus.
Católica que era, “agarrou-se” com São Francisco das Chagas, prometendo que
faria uma viagem a pé até Canindé, num percurso de mais de duzentos e cinqüenta
quilômetros antes mesmo do nascimento do filho e que se este fosse homem
por-lhe-ia o nome de Francisco das Chagas. E foi assim que visitei Canindé a
bordo de uma barriga e me tornei herdeiro do nome do Santo de Assis.Prosseguindo
com o cadastro, agora pediam que eu definisse meu sexo. Cliquei naquela setinha
do campo do formulário e me apareceram duas opções: “masculino” e “feminino”.
Para minha comodidade não tive problema nenhum em escolher um dos dois, mas
fiquei deveras curioso para saber o que fariam alguns amigos meus, tendo que
escolher entre duas opções sobre cujas especificidades não têm afinidade
alguma. Penso que marcariam qualquer opção, indiferentes ao resultado já que
nenhuma lhes representa. Semelhantemente age o eleitor que é obrigado a
escolher entre dois ou três candidatos cujas ideologias são diametralmente
opostas às suas.Não sei como
pode ser útil saber qual religião professa o cadastrado, mas foi exatamente
isto que tive que informar, e aí sim, tenho dúvidas. Se pudesse teria dito
simplesmente – não sei. Ou então - não tenho. Explico: como ficou evidenciado
no episódio de minha gestação, nasci sob os auspícios da Santa Madre Igreja
Católica, em cujo templo fui batizado e crismado. Levado por minha mãe assisti a
missas e outras cerimônias religiosas onde ouvia atentamente as instruções para
evitar o inferno e alcançar a vida eterna ao lado do Todo Poderoso, no Paraíso.
Também li algumas publicações editadas pela Igreja, incluindo passagens bíblicas
e confesso que quanto mais eu ouvia, quanto mais eu lia sobre o assunto mais
dúvidas eu tinha, ao ponto de na adolescência negar peremptoriamente a
existência de Deus.Especulei
sobre outras religiões, cristãs e não cristãs e em cada uma delas encontrei mais dúvidas do que respostas,
sempre achei que se houvesse um Deus, Este não precisava de padre ou pastor
para servir de intermediário entre nós, nunca pude conceber o Deus raivoso e
vingativo descrito na bíblia. As coisas começaram a clarear quando ingressei na
maçonaria, não que esta fosse uma religião, mas porque é condição primeira e
absoluta que o candidato tenha crença em um Deus (Grande Arquiteto do
Universo), independente de religião para ingressar em seus quadros. Daí tive
contato mais direto com a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec onde à
luz da razão encontrei muitas respostas para questões que as religiões
tradicionais não convenciam ao tentar elucidá-las.Não tenho
certeza se sou Espírita, já que a Doutrina não tem rito de batismo ou de
iniciação e nem freqüento um Centro ou grupo de estudos. Talvez,
pretensiosamente, por me identificar muito com os ensinamentos de Kardec me
autoproclamo ESPÍRITA. Que me perdoem os que pensam o contrário, noutra
encarnação haveremos de concordar.
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