O crime compensa? Se formos analisar
seguindo a cartilha da igreja, da escola e das famílias, o crime não compensa,
mas na vida real da delinqüência depende de quem é julgado e de quem julga, ou
de quem não julga, pois segundo uma pesquisa da USP de Ribeirão Preto (SP)
somente 3% dos processos para investigar roubos chegam ao fim. E mesmo assim,
depois de um longo, tortuoso e burocrático caminho, quando finalmente a justiça
põe a mão no meliante, quase sempre a pena não vale o delito, ou seja, vale à
pena roubar.
Talvez seja culpa de nossa legislação
anacrônica que apesar dos remendos não tem acompanhado a evolução das relações
sociais do país, especialmente as sutis estratégias do crime, seja organizado
ou não. Percebe que as penas de multa, devolução de dinheiro roubado, desvios
propinas, etc., quando aplicadas têm caráter tributário, isto é, para o
infrator funciona como um imposto, uma taxa devida sobre a transação (roubo) e
que sempre é inferior ao montante do negócio. Cumprida esta exigência, o
meliante encontra-se remido, pronto para delinqüir novamente, pois quem escapa
impune, ou quase, na primeira infração dificilmente resiste à tentação de
reincidir.
Há, por assim dizer, uma espécie de
condescendência social com o roubo, muitas vezes critica-se em público a ação
do ladrão, mas admira-se o carro importado que o mesmo sente orgulho em
ostentar (e como fazem questão de se mostrar), fecha-se os olhos para a fonte dos recursos mas não se constrange em
participar de uma mesa de bebidas regadas a vinhos e uísques caros, financiada
com dinheiro da bandidagem. Cria até um sentimento de cobiça, principalmente na
juventude, ao ponto de crianças externarem aos incrédulos e inocentes pais que
quando crescerem “querem ser como eles”.
Aqui vai o que penso, sem falsa
modéstia, ser uma contribuição aos operadores do Direito, juízes, advogados,
legisladores, etc. Nada pode ser mais constrangedor para um “amigo do alheio” do
que ser flagrado trabalhando, principalmente numa atividade que não lhe renda
os tufos de dinheiro. Então porque em vez de multa ou porque não complementar a
multa com serviços forçados em hospitais, asilos e similares sempre tão
carentes de mão de obra? Garanto que nestas circunstâncias a juventude jamais o
invejava nem as crianças tentariam copiá-los.
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