O QUE RESTOU DA LAGOA DOS NERES - AINDA DÁ TEMPO
A localidade de “Lagoa dos Neres”,
distante 20 quilômetros da sede do município de Novo Oriente, deve seu nome a
uma antiga família que viveu na região, associado a uma lagoa que por muitos
anos foi o único manancial onde o rebanho e o povo de uma área relativamente
grande mataram a sede. A família, segundo registros, teria habitado a região,
pelo menos, a partir da segunda metade do século XVII e desaparecido ainda no
século XVIII. A lagoa, estudos geológicos comprovariam que está lá há milhares
de anos e certamente continuaria lá, não fora a interferência negativa do homem
nas últimas cinco décadas.
Lembramo-nos
que na década de 60, quando garotos e tomávamos banho nas águas límpidas da
lagoa, éramos sempre vigiados por adultos, pois havia o risco de afogamento,
uma vez que sua profundidade era presumida entre 2,5 metros e 3 metros. A
preocupação era pertinente. Tanto era que por estes tempos morreu uma pessoa
adulta, afogada, quando tentava atravessar a nado de uma margem à outra. Seu
corpo só foi encontrado horas depois com auxílio de vários mergulhadores
experientes.
Nem
bem se passaram 50 anos e hoje a lagoa não é nem sombra do que foi no passado.
Sua extensão que outrora desafiou hábeis nadadores, ora não passa de poucos
metros. O que chamaríamos de lâmina d’água (na verdade uma mistura indefinida
de água, lama e restolho de tronco e galho de árvore) na parte mais profunda não
atinge 70 centímetros. E se nada for feito, daqui a poucos anos não restará nem
sinal do que um dia foi um lago imponente, chegando a emprestar seu nome para a
localidade.
PEDREIRA CRIMINOSA - FALTA FISCALIZAÇÃO
No entanto, não é necessário ser
especialista no assunto para detectar a raiz do problema. Mesmo um olhar leigo
comprovará que o desmatamento das encostas dos morros ao longo dos cinco ou
seis quilômetros à jusante do riacho “Bom Sucesso” (assim chamado o pequeno rio
que abastece a lagoa) é o principal responsável pelo assoreamento do
reservatório. A situação tende a se agravar substancialmente a partir das
próximas chuvas, pois uma grande quantidade de terra está sendo removida das
referidas encostas em conseqüência da exploração de uma pedreira concentrada
exatamente no leito do riacho. Temos dúvidas da existência de uma licença ambiental
para o empreendimento.
Houve
no passado um acordo tácito entre os proprietários de terras da comunidade.
Todos tinham consciência que por tratar-se de um reservatório natural, ninguém
se intitulava dono da lagoa, nem mesmo aqueles que por sobre as águas passavam
seus domínios. Era um bem da natureza e assim deveria ser de utilidade para
todos. Houve no passado, dissemos nós, pois no presente, esquecidas do acordo,
algumas pessoas encompridaram seus quintais até o leito seco da lagoa. Até
mesmo construção de moradias ameaça invadir áreas onde em outros tempos eram
domínio das águas.
Gostaria
muito de que no futuro nossos filhos pudessem banhar-se nas águas da lagoa,
como fizemos um dia, e dissessem orgulhosos para seus filhos: “Aqui está a lagoa
que emprestou seu nome para nossa comunidade”. Depende de nós, ainda dá tempo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário