O
cenário ainda é o mesmo, a região é o semiárido nordestino e o país é o Brasil.
As formas geométricas desenhadas na lama seca dos reservatórios denunciam mais
um ano sem chuvas na região. Desde que Pero Vaz de Caminha, olhando o Brasil a
partir de Porto Seguro sentenciou que “por aqui em se plantando, tudo dá”
(provavelmente naquele abril de 1500 estivesse chovendo) até os dias de hoje
vêm se alternando anos de bons invernos com períodos completamente secos.
A dor e o
sofrimento do sertanejo nordestino, vítima indefesa deste fenômeno nefasto,
serviram de inspiração para diversas categorias de artistas, escritores,
poetas, cantores e cantadores e até cineastas. Também foi tema de campanhas
políticas de todos os escalões e de todos os tempos, começando com a célebre
frase de D. Pedro II: “não restará uma única joia na coroa, mas
nenhum nordestino morrerá de fome”.
Patativa do
Assaré imortalizou a saga do camponês do nordeste em sua “TRISTE PARTIDA” e
Luiz Gonzaga a fez voar para outras plagas através de sua “ASA BANCA”. Luiz
também denunciou: “mas doutor uma esmola, para um pobre que é são, ou lhe mata de vergonha
ou vicia o cidadão” e não se esqueceu
de exaltar a “mulher macho”, PARAÍBA: -quando a lama virou pedra e mandacaru secou, quando arribançã de sede, bateu asas e
voou... - Rachel de Queiroz em “O QUINZE” e Graciliano Ramos em “VIDAS
SECAS”, descreveram com requintes de realismo a penúria e aflição dos
retirantes da seca.
Mais
recentemente, os governantes militares e até os próceres do capitalismo
pessedebista desenvolveram diversas ações com o objetivo colimado de amenizar
os efeitos das estiagens no polígono das secas. Efetivamente eram abertas
frentes de serviço e empregadas caravanas de flagelados em troca de míseros
salários que não davam sequer para pagar o fornecimento do feijão brogodó.
Com a perversa lógica do capitalismo, que é a
de dar mais a quem já tem, em detrimento daqueles que realmente precisam, foram
construídos muitos açudes, cercas e outros beneficiamentos em propriedades
particulares, com a conivência de nossos eternos e corruptos políticos, que por
sua vez engordavam suas contas bancárias e aumentavam seu prestigio junto aos
coronéis do sertão. Assim, os recursos que eram liberados pela União para o
combate dos efeitos da seca, vinham se depreciando pelas estradas da burocracia
oficial, tal qual ponteira de lápis que se desgasta ao percorrer as linhas do
papel, chegando ao seu destino com valor insignificante.
Foi
preciso que um nordestino, retirante da seca ascendesse à Presidência da
República para inverter-se a lógica da ponteira do lápis. Lula da Silva subiu à
Rampa do Planalto em 2002 com a promessa de tirar da miséria mais de trinta
milhões de brasileiros que viviam abaixo da linha de pobreza. Sem fazer alardes
e enfrentando críticas da oposição, Lula reformulou algumas iniciativas já
existentes e criou outras, perfazendo assim o maior programa de distribuição de
renda do Planeta.
A presidenta Dilma está dando
continuidade e aprimorando os programas sociais da era Lula. Criou o plano
“Brasil sem Miséria” para englobar nele todos os programas existentes e está enfrentando
com ele o desafio de erradicar por completo a miséria do país.
Portanto,
apesar das críticas feitas pela oposição do governo, podemos comprovar que os
Programas Sociais do governo são de fundamental importância para o
desenvolvimento do Brasil, não só em termos econômicos, mas, principalmente em
seu caráter social, pois se trata, de uma medida anticíclica que promove
benefícios para a economia como um todo, ao tempo em que se promove também inclusão
social dos beneficiados dando-lhes a oportunidade da tão esperada ascensão
social. O que Luiz Gonzaga definiu como vergonhoso ou viciante tem servido para
elevar a estima e a esperança de milhões de irmãos nordestinos que não vêem no
benefício, uma esmola, mas uma compensação e uma oportunidade de alavancarem
suas vidas.
Muito
já foi feito e muito mais está por fazer. Nossa pecuária ainda sofre com sede e
com a fome e o sertanejo ainda tem pesadelos ao presenciar os urubus
alimentando-se da carniça de suas reses, mas os humanos não precisam mais
passar pela humilhação de trocar seu suor por uns caroços de feijão que não
cozinham nem em panela de pressão. Meus amigos artistas, esperamos, doravante,
recitar suas obras sem jamais carecer vivenciá-las, que elas nos sirvam para
lembrar um tempo que não queremos de volta.
Muito bom amigo Francisco Canuto. Realmente não se ver mais um êxodo em consequência da seca, inclusive esta que é cruelmente feroz. Lembro que os bolsões das secas eram humilhantes, deploráveis nas mãos dos militares insensíveis ao sofrimento dos sertanejos. Distribuíam um feijão que cozinhava o dia inteiro na panela e ainda ficava duro como pedra, a farinha amargava que nem o pecado da gula. Muita coisa mudou, mesmo assim a impiedade dos tempos continua no ermo do sertão, muda-se o cachimbo, mas o fumo continua o mesmo!
ResponderExcluirRaimundo Cândido
Belíssimo texto, parabéns.
ResponderExcluirMeu caro amigo Canuto o que li é um retrato fiel do que foi e como é a seca que estamos passando. Em outras épocas, com certeza, já tínhamos diversas saqueamentos, o comércio já estava passando por uma crise enorme e alguns deles até fechando suas portas, mas, o que estamos vendo é um cenário totalmente diferente. Crateús em especial está abrindo uma loja por semana, o comércio ainda não sentiu os efeitos da seca graças a política do governo federal, o que pra alguns é uma esmola pra mim eu entendo como cidadania e alto estima de cada brasileiro.
ResponderExcluirRonaldo Marçal
Grande Canuto, estou contente com sua linha de escritor, primeiro parabéns pelos textos e segundo que bom conseguirmos dar visibilidade as questões cruciantes dos nordestinos sabendo que somos vítimas, mas também promotores de grande arrancadas e que ainda se tem muito a fazer como você citou e dentre elas a importância de lutar sempre, não calar e saber criticar e separar o joio do trigo. Um carinhoso abraço
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