sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A CUBA QUE A IMPRENSA NÃO CONHECE

Yoni Sánchez

Qual seria, a priori, o melhor critério para se conceituar o desenvolvimento de uma nação? Que valores devem ser considerados na mensuração de um país desenvolvido ou subdesenvolvido?   A mim parece, que numa abordagem humanística, onde o Estado deva estar a serviço da população, proporcionando saúde, educação, segurança, enfim, contribuindo para o bem estar geral de seu povo, estes deveriam ser os itens considerados para se posicionar uma nação quanto o seu desenvolvimento.
Sou, por tradição e formação, averso a quaisquer tipos de regimes totalitários e cerceamento de liberdades individuais ou grupais, desde que sejam legítimas. Por isso a pretensão deste artigo não é defender a ditadura implantada em Cuba pelos irmãos Castros, como também não pretende cantar loas aos Estados Unidos e Cia., pelo embargo econômico criminoso e descabido imposto àquela ilha caribenha há mais de meio século. No entanto, ressaltam aos olhos, as contradições do discurso e da práxis.
O índice de mortalidade infantil de cuba é de 4,9 para cada 1000 nascimentos; enquanto isso na decantada maior economia do mundo, nos Estados Unidos, o índice vai a 6,06 e no meu Brasil, mesmo após uma sensível melhora nos últimos anos, ainda registramos 21,07 mortes em mil nascimentos. Na terra do Tio Sam existem 3,1 médicos para cada mil habitantes, no Brasil não temos mais do que 1,72. Pois bem, Cuba ostenta 6,4 médicos para cada milhar de seus habitantes. No mesmo caminho, os leitos hospitalares, para cada grupo de mil pessoas é de 5,9 em Cuba, 3,1 nos EUA e de apenas 2,4 no Brasil.
Além disso, num universo de 102 países subdesenvolvidos pesquisados, o Índice de Pobreza de Cuba é o sexto menor. Já, neste item, os Estados Unidos é o pior dentre todas as nações consideradas desenvolvidas. O Brasil, que hoje ocupa 84º lugar no índice de Desenvolvimento Humano, perde feio para Cuba, que apesar de todas as dificuldades e embargos se coloca em 51º lugar. È preciso também considerar que 85% das famílias cubanas moram em habitações próprias e os 15% restantes pagam aluguéis simbólicos de até dois dólares ao Estado e têm a opção de converter o aluguel e amortização para a compra do imóvel.
No quesito expectativa de vida, Cuba está praticamente empatada com os Estados Unidos, um pouco mais de 78 anos, e ambos ganham do Brasil que não conseguiu atingir até agora 74 anos. 99,8% dos cubanos acima de 15 anos são alfabetizados, um fato, sem dúvida, digno de admiração em todo mundo. Outro dado que deve ser copiado, principalmente pelas nações subdesenvolvidas é que desde 2009 a UNICEF certificou que Cuba houvera erradicado, por completo, a desnutrição infantil.
São números, eu sei; mas são números positivos, embora eu saiba também que existem números negativos e que numa simples equação matemática, estes anulam aqueles. Como ponto negativo pode-se argüir, por exemplo, a questão dos Direitos Humanos. O Governo cubano tem sido acusado de inúmeras violações, incluindo torturas, detenções arbitrárias, julgamentos injustos e execuções extrajudiciais. Aos cubanos também são negados direitos fundamentais como livre expressão, privacidade, direito de ir e vir – como a negação, hoje, do visto para a blogueira Yoani Sánchez vir ao Brasil para o lançamento de um filme do baiano Carlos Galvão “Conexão Cuba Honduras” – e outros.
O que se pede é que a grande imprensa brasileira quando de suas incursões pelas ilhas caribenhas esqueça um pouco a matriz americana e fale dos dois lados, grafe em seus periódicos os números positivos e negativos e deixe que os leitores resolvam a equação. Fale por exemplo que milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive nas maiores economias do mundo, também têm seu direito de ir e vir negados pela absoluta falta de condições financeiras, o que talvez não seja o caso da jornalista cubana. Diga também que aqui no nosso Brasil, um país de todos, mais de 25 milhões de brasileiros não seriam jornalistas, pois sequer são alfabetizados. Digam; mas digam tudo...        


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